ANCHIETA, O HUMANISTA *(Publicado em A Gazeta, 10/04/2014)
No Brasil, especialmente no litoral que vai
de Pernambuco até São Paulo, Anchieta é nome comum de homens, academias,
escolas, grêmios estudantis, empresas diversas, veículos de comunicação,
teatros, bibliotecas, estradas, ruas, bairros, cidades, ilha... O
reconhecimento público do humanista tem forma concreta e ampla na sociedade
brasileira, muito antes de a Igreja o colocar entre santos.
Homem extraordinário, influenciou a formação
do nosso País, e o desenvolvimento de diversas áreas da cultura nacional. É uma
das personalidades mais brilhantes do Ocidente no séc. XVI.
Comunero
(defensor dos interesses do povo) o pai de Anchieta pertencia a uma
família nobre de Guipuzicoa, que faz parte da região dos Bascos. Desavenças com
Carlos V levaram-no a emigrar para Tenerife, Ilhas Canárias. Lá encontrou
uma viúva nativa que já tinha 2 filhos, com a qual se consorciou e que veio a
ser a mãe de Anchieta.
Segundo antigo pároco alemão de Vila Velha,
sua santificação demoraria a acontecer porque havia impedimento canônico
(legal), em tornar santo indivíduo nascido de casamento não realizado na
Igreja.
Um dos homens mais cultos do Ocidente no séc.
XVI, foi Anchieta pioneiro ao descrever cientificamente plantas e animais
da América; a função da bolsa dos marsupiais; os canais e glândulas de veneno
das serpentes; classificando o tapir, ou anta, entre os equinos... Superdotado, em dois anos, foi feito jesuíta e, com 19, veio para o
Brasil. Dois anos aqui foi o suficiente para que criasse a primeira
gramática da língua Tupi. Autor teatral, poeta, cronista, orador brilhante,
lecionou e dirigiu colégios que criou na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e
São Paulo. Colaborou decisivamente na fundação de cidades e das capitais desses
Estados. Chefe de Guerra, nomeou Tibiriçá capitão, e, liderando os Goianáses,
expulsou para Ubatuba os Tamoios que os sitiavam. Diplomata destemido,
apresentou-se com as mãos amarradas (“payé – guaçú”) e permaneceu como refém
dos Tamoios até conseguir a paz. Foi quando escreveu extenso poema dedicado a
Nossa Senhora.
Para combater Villegagnon, engajou Arariboia
e seus bravos na Prainha de Vila Velha. Cena pintada por Levino Fanzeres
em grande tela, como contribuição do Espírito Santo às comemorações do
Centenário da Independência, 1922. (Existente na Assembléia Legislativa. Veja
anexo.)
Canário (natural das Canárias, ilhas dos
cães), filho de imigrante, mirrado, corcunda e moreno, gozava de imenso
prestígio no Brasil que ajudou a construir. Anchieta nos influenciou para que a
relação entre conquistadores e nativos fosse mais humana e menos ideológica, de
integração e não de segregação, como ocorreria principalmente na América do
Norte, Venezuela, Uruguai e Argentina.
Anchieta transcende a santidade católica, é
patrimônio histórico da humanidade.
Kleber Galvêas, pintor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário