SELEÇÃO
DEMOCRÁTICA – A Gazeta, 01/07/2014
Quando criança gostava muito de futebol.
Fui capitão do time onde Rubinho Gomes e Claudio Vereza conquistaram as suas
primeiras medalhas de prata, como jogadores. Continuo apreciando um bom jogo e
torço pelo Brasil.
Em
1958, ouvi a final da Copa do Mundo em rádio AM, junto com a turminha entre
8 e 12 anos da Prainha, Vila Velha, no extinto Golfinho Iate Clube. Os 5
gols do Brasil comemoramos pulando no mar que ficava em frente ao clube. A
Prainha ainda não havia sido extinta: primeiro, a prefeitura lançou ali todo o
esgoto da cidade; em seguida, o Estado aterrou a enseada. Era lugar tão
aprazível que foi escolhido pelo pintor paisagista Homero Massena (1885 – 1974)
para viver seus últimos 23 anos, depois de circular por todo o leste do Brasil
e Europa.
Aprendemos as músicas, que só saíram
depois da Copa. Gostávamos muito de uma que começava nomeando os jogadores do
“Escrete Nacional” que “balançaram a roseira”, e que eu ainda canto.
Este
ano, no dia do segundo jogo do Brasil na Copa, observei um fato curioso. Sinal
dos tempos? Fiz pipoca para meus netos (de 8 e 11 anos) e permiti que
convidassem 5 amigos. A turminha comeu as pipocas, mas não mostrou o menor
interesse em acompanhar a partida em tela HD. Fotografei a galera na hora do jogo
brincando de pique no quintal e jogando no computador. Todos eles jogam futebol
em nossa rua de chão onde rola pelada e furingo.
Na
coluna Praça 8, de A Gazeta de 21-06-2014, políticos falam em
“instalar telão e fazer a convenção rápida” para assistirem ao jogo do Brasil.
Uma questão de oportunidade e... prioridade.
Isso me
lembrou fato que presenciei durante o jogo do Brasil na Copa de 2006.
Acompanhei meu primo numa reunião de agricultores, em galpão localizado à beira
da estrada que liga a BR 262 a Afonso Cláudio. O encontro era para a
aquisição de mudas e orientação sobre o plantio de lichia (Litchi chinensis) na
região de Pedra Azul.
Ao
chegar lá, tive uma grande surpresa: o jogo do Brasil rolando na TV da
lanchonete da entrada, sem espectadores. Lá dentro do galpão, mais de 200
agricultores ouvindo a palestra. O homem dizia ter milhares de mudas de lichia
na Serra do Navio (Amapá), que seriam doadas para a região por haver ali
altitude e clima semelhantes ao da Serra do Navio e agricultores com alto nível
de qualificação. Só seria cobrado o transporte aéreo. Soube que as mudas nunca
chegaram.
Se a
Cultura conseguisse resgatar 1% do tempo e da tecnologia, que a mídia dedica ao
futebol, e recuperasse ao menos 50% do espaço que ocupava até 30 anos atrás,
ajudaria a aprimorar nossa política. Enfrentando dificuldades e seduções, os
eleitores, especialmente os jovens, estão mais conscientes do seu papel na
democracia. O meio mudou para melhor. Sobreviverá após seleção democrática,
propiciada pela eleição, o político que perceber essa mudança e se adaptar aos
velhos princípios de probidade e sustentabilidade.
Kleber
Galvêas, pintor.
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