VOCAÇÃO E POLÍTICA A Tribuna, 23/07/2014
A proposição
inicial da filosofia é o autoconhecimento. Fundamental para revelar a
identidade. Consciente da identidade e afinidades, o homem encontrará a sua
vocação, que indicará a postura social e política mais apropriada para sua vida.
Se negligenciarmos a vocação como
princípio, nossas ações dificilmente nos trarão satisfação e
sucesso. Essa negligência exigirá sempre sacrifícios e causará frustração
Da mesma forma que o indivíduo, as cidades, estados, países e o mundo se
esforçam para identificar suas vocações e, assim, possibilitar um
desenvolvimento sustentável, e não apenas crescimento.
Ninguém sabe dizer “de onde veio”, num passado remoto. Investigações
feitas na terra, mar e ar; ciências físicas e humanas estudadas têm-nos ajudado
a compreender “onde estamos”. A questão agora é “para onde vamos”? O futuro se
constrói pelas escolhas que fazemos. Portanto é preciso que a vocação seja
considerada a priori em nossas atitudes, para seguirmos com
aptidões naturais, desenvolvendo habilidades adquiridas, e assim construirmos
uma realidade progressista sustentável, individual e coletiva.
O pior governo é o que despreza a vocação do lugar e do seu povo,
criando um “ismo” (ideologia particular) unânime entre aqueles que gravitam no
poder. Sem ética esse governo tem os pés de barro, como os do ídolo
bíblico e logo desmoronará. A História tem muitos exemplos desses aventureiros.
Adão comeu a maçã da “árvore do bem e do mal”. Herdamos o pensamento
reflexivo, a capacidade de avaliar e de escolher com livre arbítrio: de
eleger. Fora do paraíso, desenvolvemos a linguagem e, com ela, a possibilidade
de realizar associações políticas e grandes ações em conjunto. Com limitado controle
do ambiente, mas dominando no reino animal, assumimos a gerência do progresso.
Para o bem e para o mal.
A força de um grupo se faz efetiva para o desenvolvimento havendo
liderança que identifique o ambiente e coordene as aptidões dos indivíduos,
para que somem esforços num mesmo sentido. Cientistas, artistas,
políticos, jornalistas, sociólogos, psicólogos, folcloristas, jesuítas e até
visitantes estrangeiros já listaram as características que compõem a identidade
capixaba, propícia para a vocação extraordinária que temos relativamente ao
primeiro e terceiro setor da Economia: agricultura e serviços.
A faixa mais nobre do nosso litoral, que vai da foz do Rio Doce até
Marataízes, tem vocação para moradia, turismo, esporte, lazer, pesca, fazendas
de frutos do mar e alguns poucos portos. Não deve ser ocupada por gigantes do
segundo setor (indústrias). Ali, inviabilizam as nossas atividades vocacionais,
pois têm trazido: poluição, violência, falência da mobilidade e dos serviços
públicos, ocupação imprópria e desordenada do solo. Indústrias são necessárias.
Bem localizadas e orientadas trazem o progresso, mas hoje é a preponderância do
terceiro setor que caracteriza economias desenvolvidas.
Nas eleições que se aproximam devemos estar atentos aos candidatos: - processados
por corrupção; - os que já governaram e se mostraram despreparados para lidar
com a nossa vocação; - subvencionados pelas grandes poluidoras que se recusam
agir, ignorando o interesse social e mesmo a utilidade pública; - déspotas
medíocres que tomam atitudes imperiais nos desprezando e descaracterizando,
matando nossa vocação; - provincianos que não percebem nossas características e
valores locais, esquecendo que na globalização os diferentes somam.
Esses políticos precisam ser banidos pelo voto, para que os partidos se
ajustem à democracia, apresentando candidatos escolhidos democraticamente,
dispostos a promover o progresso servindo, e não sacrificando a nossa vocação.
Kleber Galvêas, pintor.
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