domingo, 15 de fevereiro de 2015

CARNAVAL E IDENTIDADE - Texto de Kleber Galvêas - CULTURA

CARNAVAL E IDENTIDADE - A Gazeta, 14/02/2015

Conheço brasileiros que ficam mais “arrepiados”, quando um dobrado é tocado por banda, em desfile militar, do que quando assistem a uma gigantesca bateria de Escola de Samba desfilando no carnaval. Ambas comandadas com forte disciplina, sob o poder absoluto dos maestros. Gosto não se discute, mas discutir política cultural é nosso dever.
As manifestações culturais (iniciativas do povo) desenvolvidas durante o Brasil Colônia, Império e República foram reconhecidas, catalogadas e apropriadas pelo governo durante a ditadura de Getúlio Vargas, seguindo estratégia do eficiente Ministro Capanema: institucionalizou-se a Cultura no Brasil. O autoritarismo do Estado gerenciou e usou essas manifestações espontâneas do povo em propagandas do regime.
Embora saibamos que, quando a cultura é gerenciada pelo Estado, deixa de ser cultura e passa a ideologia (getulismo, imperialismo, nazismo,...). Essa ideologia navega incólume, com o rótulo de cultura, por tantos governos, que é vista por quase todos como natural.
 Sarney, em 1986, com suas nefastas leis de “Incentivo à Cultura”, fez pior: privatizou o autoritarismo.
Hoje empresas, com nossa grana, obtida através de renúncia fiscal do governo, são encarregadas de gerenciar essa área, fundamental para o desenvolvimento da nossa criatividade e identidade como povo. E la nave va....
Através da renúncia fiscal, desviam-se do Fundo de Cultura recursos que superam o orçamento do ministério e secretarias de cultura. Assim, essas empresas patrocinam, à revelia do governo eleito, projetos próprios, ou que sejam do seu interesse nas diversas áreas em que se intrometem, e os apresentam como cultura, massacrando as iniciativas populares autênticas.
O carnaval, fora o desfile das escolas de samba, resiste como manifestação espontânea. Vivemos dias mágicos de comunhão, tolerância, criatividade e espontaneidade. Talvez o lapso mais cristão do ano. É um evento cultural fantástico que revela desenvolvimento humano extraordinário e alegria, característica da nossa identidade.
Kleber Galvêas, pintor.

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