DR. JOÃO RESPONDE
A DOR DO LUTO NÃO DEVE
SER MEDICADA
O princípio da vida vem recheado
de alegria e esperança. A dor do adeus vem temperada de lamento e saudade.
O nascimento e a morte são
acontecimentos que unem verdadeiramente as pessoas.
O início e o fim serão sempre os
grandes mistérios da humanidade. Não sabemos o que vamos encontrar do lado de
lá, nem lembramos o que éramos antes de aqui chegar.
O sofrimento emocional em sua
pior forma, como acontece no luto, é um dos mais cruéis da humanidade. Apesar
disso, a tristeza ocasionada pela perda não deve ser medicada.
Nossa capacidade de sentir dor
emocional tem um grande valor adaptativo. Não podemos converter o padecimento
em doença sem mudar radicalmente quem nós somos.
Se não pudermos tolerar a tristeza,
não conseguiremos experimentar a alegria. Mascarando a dor, transformamos o
indolor em estupor. Luto não deve ser tratado como depressão, embora possa
evoluir para tal.
Abatimento, insônia, anorexia, desânimo, falta de
interesse, dificuldades para trabalhar, estão presentes durante o pesar.
Ao lidar com o desfecho da vida, devemos lembrar
que esse lado sombrio é o preço necessário que pagamos pela ligação com os
nossos entes queridos.
Iniciamos a existência necessitando de amor. Nossa
vida consiste em uma série de ligações e perdas.
É lamentável ver pessoas dopadas de calmantes
durante um velório. De que adianta o corpo do enlutado estar presente, se o
cérebro, entorpecido por medicamentos, aprisiona a mente nas brumas do
entorpecimento, impedindo-a de participar dessa dor terapêutica.
Medicar o luto reduz a dignidade do sofrimento.
O uso de drogas durante o pesar produz um lenitivo incompleto,
superficial e despersonalizante.
Tranquilizantes afastam a necessária dor, impedindo
o tempo de exalta-la, domina-la e, finalmente, extingui-la. A maioria das
pessoas machucadas pela morte se recupera sem interferência de remédios.
Somos capazes de sentir desolação, angústia e
saudade, porque tudo isso tem um elevado valor de cura e sobrevivência, sendo
parte inevitável da existência humana.
Precisamos chorar a morte dos seres amados ou nunca
os amaríamos plenamente. O luto não deve
ser abortado com pílulas, pois não se trata de algo a ser curado, mas sim
vivenciado, compreendido e aceito.
Sofrimento não é doença. No lugar de prescrever
calmantes, seriam melhor oferecer tempo, reflexão, consolo, compaixão, memória
e empatia, esses bálsamos da vida. A morte deve ser lamentada ao invés de
reprimida ou tratada.
Contrição, tristeza, lamentação e saudade são
catárticas, auxiliando o enlutado a vencer o vazio que irá se instalar na sua
alma. O processo da perda leva tempo para ser elaborado.
Perder alguém querido gera sentimentos dolorosos.
Mas, não se deve deixar a tristeza lá fora, com medo de a saudade apertar. Lembranças
ajudam preencher o vazio.
A saudade corre dentro do corpo passando pela mente
várias vezes, até que um dia alcançará o coração, local onde vai passar a
eternidade.
A dor da perda pode se tornar patológica apenas
quando a realidade passa a não ser aceita, e o enlutado deixa de lado sua
própria vida para viver somente de lembranças.
O desaparecimento da esperança, da criatividade, do
sono, do prazer e da motivação em retomar a vida normal, são os principais
indicativos de que as coisas não vão bem.
A maneira mais saudável de encarar a perda é saber que a morte levou apenas o
corpo físico do ente querido. A representação de tudo aquilo que existiu na
pessoa que se foi, continuará existindo dentro do psiquismo de quem ficou, e
isso nunca poderá ser retirado dela.
O sofrimento preenche o vazio da mortalidade, se
diluindo em lembranças e saudade.
JOÃO EVANGELISTA
TEIXEIRA LIMA
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